quinta-feira, 30 de março de 2017

Operadoras virtuais disputam nichos

VALOR ECONÔMICO
29/3/17


As operadoras móveis virtuais, ou mobile virtual network operators (MVNOs), em inglês, começam a ganhar espaço no Brasil, sete anos após a Anatel ter regulamentado o setor.

Ao todo, o Brasil conta com 11 MVNOs, entre as que já vendem seus serviços e as que receberam sinal verde da agência reguladora, mas ainda não iniciaram operações. Cinco dessas licenças foram outorgadas apenas em 2016.

Trata-se de empresas que não têm espectro nem infraestrutura de rede próprios. Em vez disso, elas compram voz e dados no atacado, de grandes operadoras móveis, e os revendem aos próprios clientes. O foco são grupos de consumidores que, em geral, não são abordados diretamente pelas operadoras tradicionais. Podem ser jovens, grupos étnicos, imigrantes, clientes de determinada rede varejista ou usuários de negócios específicos, só para citar alguns exemplos.

Como priorizam nichos e têm custos menores - muitas atuam exclusivamente no ambiente virtual e outras aproveitam a estrutura de distribuição e atendimento de sua atividade principal -, as MVNOs conseguem fornecer serviços mais dirigidos a preços competitivos. O portfólio pode incluir desde planos de voz e dados até conteúdos exclusivos e serviços de valor agregado, além de chips, aparelhos e acessórios.

Um exemplo é a Porto Seguro Conecta, pioneira no país. Usando a estrutura da TIM, a operadora virtual oferece a consumidores de seguros e corretores serviços de celular e rastreamento de automóveis, via M2M (máquina a máquina), uma tecnologia de internet das coisas (IoT).

Outro exemplo é a Mais AD, que usa a capacidade de rede da Vivo e foi criada pela Igreja Assembleia de Deus para oferecer aos fiéis serviços de voz, dados e conteúdos de interesse do público evangélico.

O modelo de MVNOs é um sucesso na Europa e Estados Unidos, mas ainda incipiente no Brasil. "Há mais interesse do mercado local, mas o crescimento ainda é lento", diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. A participação dos usuários de MVNOs na base total de assinantes móveis do Brasil, segundo a Teleco, é pouco mais de 0,2%, a maioria usuária de M2M.

A expectativa do mercado é que a chegada de prestadoras virtuais focadas no consumidor final impulsione o segmento. É o caso da Veek, que deverá entrar em operação no fim de maio, e da Correios Celular, lançada no começo de março. Elas priorizam, respectivamente, o público jovem e a população de baixa renda, com planos pré-pagos. Ambas são parceiras da EUTV (Surf Telecom é o nome fantasia), MVNO que se especializou em habilitar outras MVNOs e que opera com as frequências da TIM. Um dos trunfos da Correios é sua malha de lojas físicas, que cobre todo o território nacional. Estão a serviço da nova operadora todo esse canal de distribuição e de atendimento presencial, call center e rede corporativa de dados já instalados na estatal. "Não houve investimento extra além da preparação de força de atendimento e de ajustes em alguns sistemas", diz Cristiano Morbach, vice-presidente da rede de agências e varejo dos Correios. O Correios começou a operar em 12 agências na cidade de São Paulo. "O público tem demonstrado boa aceitação. Em poucos dias, vendemos mais de 1.000 chips do nosso plano pré-pago", diz Morbach. Por R$ 30 mensais, o serviço inclui 100 minutos de ligações de voz ou 100 SMS para qualquer celular e fixo de qualquer operadora, 30 dias de internet em alta velocidade e WhatsApp grátis, entre vários outros recursos.

A meta da prestadora virtual é obter lucro com escala o mais rapidamente possível. Até setembro, o serviço deverá estar em todos os Estados, em cerca de 4.500 agências. "A expectativa é alcançar até 8 milhões de clientes ao final de cinco anos", diz Morbach. Enquanto a Correios Celular aposta em sua rede de lojas físicas, a Veek centrará foco no ciberespaço para chegar ao seu público de interesse: jovens indicados por influenciadores, familiarizados com internet, smartphones e tablets, que gostem de interagir por meio de aplicativos e que estejam e dispostos a gastar, ao menos, R$ 30 por mês em serviço pré-pago. "Não queremos aquele cliente que fica 80 a 180 dias sem fazer recarga, praticamente inativo", diz Alberto Blanco, CEO e fundador da Veek.

A Veek terá tarifa única para os serviços, seja Megabyte trafegado ou SMS enviado, seja ligação para móvel, fixo, local ou de longa distância. A compra on-line do chip vai requerer a posse de um código fornecido pelos promotores da marca, ou "veekers". Estes ganharão dinheiro a cada novo usuário indicado.

"Já temos 20 mil 'veekers" pré-cadastrados", diz Blanco. A meta é atingir 250 mil clientes até maio de 2018. "Só preciso mostrar que sou uma boa opção para os milhões de clientes insatisfeitos que trocam de operadora todo ano", diz.

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