terça-feira, 14 de março de 2017

‘Correios ainda estão na UTI, mas sem aparelho’

Diário do Grande ABC
13 de março de 2017 


Com implantação de estratégias comerciais, revisão dos critérios do serviço postal e ajustes administrativos, o presidente dos Correios, Guilherme Campos (PSD), tenta contornar o rombo de quase R$ 4 bilhões que a estatal carrega há pelo menos dois anos. Segundo o pessedista, a empresa ainda está na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) financeira, mas mostra sinais de melhora.

“Superamos o fim de 2016 e vamos superando dia a dia. O que posso dizer é que do início do processo, de junho do ano passado para cá, a empresa continua na UTI, mas sem aparelhos. Ela estava na UTI com todos os aparelhos ligados. A nossa meta para esse ano é virar no azul”, afirma Campos, citando que, de 2002 a 2016, somente em três anos a companhia fechou com resultado operacional positivo.Durante o lançamento da operação da área de telefonia móvel, aposta comercial que os Correios acabam de ingressar, Campos concedeu entrevista ao Diário e falou sobre a necessidade de os Estados e municípios cooperarem para que a correspondência chegue aos destinatários com segurança. Para ele, o desafio é melhorar a pontualidade nas entregas e garantir a volta do funcionamento de alguns postos aos sábados.

À frente os Correios desde junho do ano passado, Campos também argumentou sobre o que tem feito à frente da instituição, que foi alvo de esquema de corrupção em 2005. “Devemos ser escandalosamente transparentes, ainda mais agora com o advento da 13.303 (Lei das Estatais), que obriga uma outra série de implementações de compliance dentro da empresa, que tornam essa questão da transparência cada vez mais evidente e obrigatória”, reforçou o vice-presidente licenciado do PSD.

Os Correios tem 12 mil agências espalhadas pelo País. Só no Grande ABC temos 48 unidades. Desses postos, somente cinco operam no fim de semana na região. Como o sr. organiza a operacionalidade das agências?

Você fala isso e me dói o coração. Acho um absurdo estarem fechadas. Não concordo. Pelo momento que a empresa passa não há alternativa, mas se depender da minha vontade terá a retomada de funcionamento no horário normal de comércio. Um meio muito rápido para você aumentar a presença e estender os serviços é aumentar o número de agências franqueadas. Está dentro do processo de expansão da empresa a volta do atendimento. Em paralelo a isso está a abertura das agências nos municípios mais distantes e menores, que estão no bojo do planejamento. Adotamos modelo de franquia para cada tipo de negócio. Uma agência em Monteiro, no sertão da Paraíba, por exemplo, é diferente de uma agência em São Paulo. Então o modelo de franquia tem de ser adequado para cada um desses ambientes. Estamos estruturando para que haja uma oferta ao mercado de franquias dos Correios, focadas nos municípios pequenos e médios. Voltaremos a oferecer o serviço aos sábados de médio para curto prazo.

Existem muitos problemas para as entregas em ruas de difícil acesso ou de risco. Como o sr. faz para melhorar o atendimento e a capacidade de entrega?

Vivemos mudança do negócio da empresa. Se o carteiro no passado entregava uma correspondência em papel, de menor valor, hoje ele vai entregar uma encomenda que muitas vezes é um celular de R$ 2.000 ou R$ 3.000. Infelizmente não é um problema dos Correios, é um problema de Segurança Pública, afeta todos os moradores e todas as empresas das regiões, sem exceção. Nós não temos capacidade de fazer a entrega nessas regiões. Cabe à empresa informar que em determinadas regiões não existe a possibilidade de entrega por serem zonas de risco. Não podemos expor nosso funcionário, enganar nosso cliente dizendo que vai entregar, com o risco de o produto não chegar ao seu destinatário. Conversamos com os Estados e os municípios, mas foge da nossa alçada. Caso contrário, para fazer uma entrega, precisa ter um serviço de escolta para todo o Brasil? É inviável.

No momento em que sua gestão administra um rombo de quase R$ 4 bilhões, provenientes dos dois últimos anos, quais saídas são pensadas para viabilidade financeira da empresa?

Continuamos normalmente com nossas entregas para o comércio eletrônico, com o serviço de Sedex, que é encomenda expressa, e o PAC, que é encomenda regular. Todos os serviços continuam da mesma forma. Precisamos restabelecer a qualidade, essa é a primeira ação a fazer. Você faz uma compra na internet e tem a expectativa de receber esse produto em cinco dias. Devemos ter pontualidade na sua entrega. Hoje essa é a principal ação do meu ponto de vista comercial de empresa. Na área postal existe uma conversa para revisão dos critérios de universalização do serviço postal. Significa que precisamos de atualização. A última foi em 1978, quando não tinha celular. Precisamos de uma atualização da legislação, que hoje nos obriga a ter a mesma frequência, regularidade e abrangência de uma época em que o monopólio era absoluto porque a comunicação entre as pessoas, instituições e empresas era por correspondência. Hoje não acontece mais. Há quanto tempo você não recebe uma carta de alguém? Cartão postal? A empresa precisa pensar o seu modo de existir. A comunicação entre as pessoas está mudando constantemente.

Em 2005, os Correios foram alvo de investigação por esquema de corrupção que envolvia pagamentos de propinas feitos por administradores da estatal a políticos. Quais têm sido seus cuidados fiscalizatórios para evitar esse tipo de escândalo?

Devemos ser escandalosamente transparentes, ainda mais agora com o advento da 13.303, a Lei das Estatais, que obriga a uma outra série de implementações de compliance de processos dentro da empresa, que tornam essa questão da transparência cada vez mais evidente e obrigatória. O próprio produto que foi lançado, o Correios Celular, se iniciou em 2010, são sete anos de processo. Tudo isso é em função dos diversos órgãos e diversas necessidades de atendimento à legislação para você dar sequência. Venho implantando diversas medidas dentro da empresa, que vêm com a obrigação de instalar série de processos de ordem fiscalizatória e regulatória de acompanhamento da empresa.

O senhor é um ex-deputado federal, foi vice-prefeito de Campinas. Como vê a questão das indicações políticas – algo comum dentro de empresas públicas – de modo que atenda sempre prioritariamente os requisitos técnicos?

Sou uma indicação política, aliás. A última antes da 13.303 (Lei das Estatais). Dentro de uma empresa pública, vejo com naturalidade a indicação política para ocupar cargos dentro da administração pública. Quem se sentir desconfortável com essa realidade é muito simples: vamos privatizar tudo e acabar com a indicação política em todas. Com a indicação, que o quadro seja de pessoas capacitadas para atuar naquela função. Se não o prejuízo é do indicado, de quem indicou e, principalmente, da empresa. Nos Correios, dos 117 mil funcionários, só podem vir de fora da empresa o presidente, oito vice-presidentes e 16 assessores especiais. Só. O restante precisa ser do quadro. Tem muita gente de fora que serve para oxigenar. Os Correios sempre foram geridos por funcionários da instituição e o resultado nosso de hoje qual é? Prejuízos bilionários.

Como está a saúde da empresa neste ano?

Superamos o fim de 2016 e vamos superando dia a dia. O que posso dizer é que, do início do processo, de junho do ano passado para cá, a empresa continua na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), mas sem aparelhos. Ela estava na UTI com tudo que tinha direito ligado. A nossa meta para este ano é virar no azul. De 2002 a 2016, a empresa só teve resultado operacional – sem o resultado financeiro – positivo em três anos, 2007, 2008 e 2010. Ao longo de todos os outros anos, o resultado operacional foi negativo. Qualquer valor que nos faça virar o ano positivo já será significativo. De 2007 a 2013, a empresa teve retirados (de verba) por parte do governo federal mais de R$ 6 bilhões, dando inclusive, margem para uma ação da CGU (Controladoria-Geral da União) contra os dirigentes da época, por terem deixado sangrar tanto assim o caixa da empresa.

Como está o PDV (Plano de Demissão Voluntária) para os funcionários e quanto gerará de economia?

Encerrou-se o prazo de adesão, com aproximadamente 5.500 funcionários, que gera economia anual da ordem de R$ 800 milhões. Esse valor deve refletir a partir do próximo ano. Precisamos aumentar esse número para chegar em R$ 1 bilhão de economia na empresa. Estamos discutindo com nossos órgãos reguladores o que fazer para aumentar essa redução da folha com os desligamentos. Essa é uma maneira de ajudar a diminuir o tamanho do rombo.

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