quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Após Correios, mais empresas devem aumentar concorrência no setor de teles

O GLOBO
18/1/17
Cerca de uma dezena de companhias pretende entrar no segmento

Depois de dois anos de projeto, os Correios começarão a vender chip de celular a partir do próximo mês. A estatal atuará como operadora móvel virtual, alugando a rede de uma empresa chamada Surf Telecom (EUTV). A capilaridade e a força da marca da estatal ao entrar neste segmento devem marcar uma nova fase no setor de telecomunicações, com o surgimento de mais concorrentes para as grandes teles do mercado, como Vivo, TIM, Claro e Oi. O serviço Correios Celular promete oferecer pacotes entre os preços mais baixos do mercado.
O serviço, que inclui voz, dados e SMS, começará a ser oferecido com chips da marca e recargas em São Paulo, mas deve chegar a todos os estados até o fim do ano. Para atrair clientes, também serão oferecidos serviços como busca de CEP, rastreamento de objetos, localização de agências, dentre outros já disponíveis atualmente em smartphones.
Segundo fontes, este é um mercado que tende a ganhar fôlego: mais de uma dezena de empresas já se estruturam para oferecer serviços de telefone e internet móvel, como a Surf Telecom, e podem alugar sua rede a companhias de diversos setores. Na lista, de acordo com especialistas, estão pequenas operadoras de TV por assinatura, além de nomes já conhecidos como a britânica Vodafone, que teria a Cemig como cliente, e a mineira Algar.
A estratégia dos Correios vai se assemelhar à da Porto Seguro, que vende planos de telefonia a seus clientes. A intenção não é competir com as teles, mas agregar valor aos serviços prestados, dizem analistas. Segundo dados da consultoria Teleco, relativos a novembro, o Brasil tem mais de 530 mil clientes de teles virtuais — dos quais quase 80% são da Porto Seguro.

— No segmento de operadoras móveis virtuais, cerca de 75% são internet móvel. As empresas não buscam apenas preço, mas criar um diferencial para seus serviços — destacou Eduardo Tude, da Teleco.

O segmento de operadoras móveis virtuais, que começou em 2012, ganhou impulso, diz o consultor Hermano Pinto, após um leilão de sobras de frequências feito pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no fim de 2015. Na ocasião, mais de 320 empresas de telecomunicações compraram sobras de frequências espalhadas pelo país. Como resultado, parte dessas companhias começou a se estruturar para criar sua própria plataforma de controle (espécie de central de rede) e, com isso, oferecer serviços.

— As empresas compraram licenças para se tornarem operadoras. Como são licenças regionais, com atuação numa área específica, há um movimento de criação de consórcios com empresas locais espalhadas por várias partes do país. Juntas, podem dividir custos e oferecer rede com cobertura maior. Esse leilão deu um novo alento às operadoras móveis virtuais, que não vão ficar mais reféns das grandes teles. A Surf Telecom, por exemplo, que venceu a licitação dos Correios, tem frequência em São Paulo — disse Hermano.
Inicialmente, os Correios vão oferecer apenas planos pré-pagos, chips e recargas. A partir do segundo ano de operação, serão iniciados estudos para definir a viabilidade da oferta de planos pós-pagos.


Após São Paulo, haverá lançamento em Belo Horizonte e Brasília. A meta é chegar a todos os estados até o CORREIOS fim do ano. Segundo analistas, a Surf Telecom teria acordo de roaming com a TIM. De acordo com os Correios, “o objetivo é atender os clientes que buscam serviços simples, práticos e prestados com transparência, e os pacotes serão planejados para estar entre os mais baratos do mercado”. Com o serviço a ser lançado no país, os Correios esperam ter receita de R$ 300 milhões ao longo dos primeiros cinco anos de operação.

— Há um número enorme de brasileiros que ainda não utilizam telefonia móvel e um número ainda maior de usuários que querem algo mais de suas operadoras. Queremos ser uma boa opção para esses públicos, nos valendo de nossa vasta capilaridade — disse o presidente da estatal, Guilherme Campos.

Iniciativas de outras empresas esbarraram em dificuldades. Redes de supermercados, bancos e o grupo britânico Virgin não chegaram a lançar suas operações de telefonia, apesar do interesse no segmento. Fábio Casotti, gerente de Monitoramento de Relacionamento entre Prestadoras da Anatel, avalia que a forte concorrência que já existe entre as operadoras tradicionais no Brasil dificulta a entrada e a expansão das redes virtuais.

— A ideia era vincular marcas e conteúdo ao serviço móvel, como ocorre no arranjo internacional, mas, desde 2010, o crescimento é bastante gradual, nada muito disruptivo — disse Casotti.

FOCO EM NICHOS DE CONSUMO Segundo o especialista Ronaldo Sá, da Orion Consultores, a concorrência no setor de telefonia deve aumentar já que, no último leilão de sobras da Anatel, foram arrematados 5,4 mil dos 20 mil lotes de frequência.

— O edital de sobras deixou em aberto a exploração do serviço de telecomunicações. As companhais, que querem se tornar operadoras móveis virtuais, podem ir além das grandes companhias móveis. Geralmente, o foco é internet, e a atuação é calcada em nichos de consumo. Nesses casos, essas empresas de telecomunicação podem fazer acordo de roaming com as grandes teles — afirmou Sá.

Na Porto Seguro, a estratégia foi criar uma operadora móvel para oferecer mais serviços aos clientes. Segundo Tiago Galli, superintendente da Porto Seguro Conecta, com a operação móvel, feita com base na rede da TIM, a empresa tem cerca de 150 mil clientes que contratam planos de voz e dados, cujos preços variam de R$ 59,90 a R$ 199,99. Além disso, há outros 320 mil chips de internet, responsáveis por serviços de rastreamento de veículos.

— Nossa ideia é criar um ecossistema. No nosso plano de telecomunicações, o valor do seguro do aparelho já vem incluído. Fizemos uma parceria com cartão de crédito que dobra o número de pontos e permite desconto na renovação do seguro do carro — listou Galli, acrescentando que o cliente, em caso de roubo de celular, tem direito a aparelho reserva por um período.

Procurada, a Algar falou que, “neste momento, não tem previsto esse tipo de modelagem em seu plano de negócios”. A Cemig não retornou. A Surf Telecom não respondeu. Segundo os Correios, a EUTV é “uma prestadora de Serviço Móvel Pessoal (SMP), que será responsável pela infraestrutura de suporte às telecomunicações”. Claro, Oi, Vivo e TIM também são SMP.

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