terça-feira, 16 de agosto de 2016

Aportes na postal saúde minam recuperação
financeira dos Correios 

Valor
15/08/2016

Criada em 2013 para gerir com mais eficiência a assistência médica de seus empregados, a Postal Saúde tornou-se uma fonte de hemorragia para o caixa dos Correios. O aporte para sustentar a nova empresa, que cuida do convênio médico de 117 mil empregados, pode chegar a R$ 2 bilhões neste ano e comprometer seus ensaios de recuperação financeira. 

As despesas para bancar o plano seguem uma rota aparentemente insustentável. No ano passado, alcançaram R$ 1,6 bilhão, o que significa gasto médio de quase R$ 1,2 mil mensais por beneficiário. Cada funcionário pode arcar com até 10% dos custos médicos, em um modelo de coparticipação, mas a parte dos empregados tem ficado em 7%.

"É uma sangria permanente no caixa da empresa", afirma o presidente dos Correios, Guilherme Campos, ex-deputado federal pelo PSD de São Paulo. "O argumento era que essa autogestão baratearia nossos custos, mas a realidade não nos mostra isso. Do jeito que está, a situação é inviável." O comando da Postal Saúde foi trocado no início de julho e ganhou carta branca para tomar medidas drásticas a fim de conter o prejuízo. Ariovaldo Câmara, ex-chefe de controle disciplinar dos Correios, que iniciou sua trajetória na estatal como carteiro em 1985, foi incumbido de traçar um plano de recuperação em 60 dias. "Ele está fazendo um processo de apertar os parafusos e eu estou aberto a todas as alternativas. O que não pode é ficar assim. O plano de saúde dos funcionários mata a empresa", diz Campos.

As contas da Postal Saúde, por requisitarem aportes dos Correios, são uma das três fontes de preocupação imediata para evitar um colapso na estatal. As outras duas são o futuro do Postalis, problemático fundo de pensão dos empregados, e o próximo acordo coletivo da categoria. Atualmente, cerca de 60% do custo operacional dos Correios é com a folha do custo operacional dos Correios é com a folha de pagamento ampliada. Ou seja: além dos vencimentos mensais, despesas com o Postal Saúde e com o Postalis.

A campanha salarial recém-lançada pela Findect pleiteia reajuste de 9,5% e aumento real linear de R$ 300, além de revisão no valor de vale-alimentação e cesta básica. Já a Fentect pleiteia 15%. Campos diz ter assumido pessoalmente a negociação, cuja data-base é agosto, e faz um apelo para que não haja greves. "Pela fragilidade em que nos encontramos atualmente, seria catastrófico", afirma. Em 2013 e em 2014, quando houve dificuldades para chegar a um acordo e os empregadores cruzaram os braços e houve prejuízo estimado em R$ 200 milhões com as duas paralisações. "Os danos intangíveis são maiores: perda de confiança, de reputação, de clientes para a concorrência."

Quanto ao rombo no Postalis, que chega a R$ 5,6 bilhões e precisará de contribuições adicionais dos beneficiários até 2039, os Correios esperam a análise do TCU sobre novo provisionamento no balanço. Uma provisão de R$ 1,8 bilhão - em valores atualizados - foi desfeita no ano retrasado, melhorou as contas da empresa com maquiagem contábil e evitou o primeiro prejuízo em duas décadas. Não por muito tempo. Em 2015, houve prejuízo de R$ 2,1 bilhões, mas o balanço não saiu.

FONTE: http://www.valor.com.br/brasil/4672059/aportes-em-empresa-de-assistencia-medica-minam-recuperacao-financeira-dos-correios (com adaptações)

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